COISAS DO PASSADO
- Tais Luso de Carvalho
Estou aqui a imaginar uma cidadezinha com suas ruelas em pedra, em estilo colonial, casas com janelas floridas, gente mais tranquila e amiga. Ando um pouco enfadada da nossa realidade, desse ritmo alucinante e inseguro, e desse consumo desenfreado. Gostaria de visitar o passado, de caminhar por lugares onde passei, rever minhas colegas e amigas, e crescer num meio mais saudável como era mais comum em tempos atrás. Sentir as coisas mais autênticas e talvez mais ingênuas.
Gostaria de vivenciar os preparativos entusiasmados dos alunos para a Procissão de Corpus Christi em que vários colégios da capital desfilavam juntos, rumo à Igreja Matriz, era uma festa esperada, uma grande confraternização entre os jovens estudantes. Gostaria de vivenciar as aulas de ginástica do colégio, ao sacrifício das academias de hoje. Gostaria de sentir, novamente os padrões morais e éticos desabrochando em cada família, diferentes dos atuais. Não tenho dúvida que as famílias perderam muito de seus antigos valores por várias influências externas, meio pesadas.
Gostaria de rever um pouco os telefones fixos, padronizados, e não passar pelo martírio das mensagens falsas e dos terríveis assaltos nas ruas atrás dos nossos celulares. Gostaria de ver mais paz nas redes sociais, e não mais um batalhão de gente postando suas vidas e outras espiando ou teclando não sei o quê. Não gostaria de ver tanto ódio espalhado no confronto das ideologias.
Também gostaria de voltar a ver o meu país produzir música de ótima qualidade. Onde estão os excelentes compositores de outrora? Tantas coisas novas e boas surgiram, mas tantas coisas muito boas morreram!
Viver o presente é o que temos agora, mas nada de muito interessante na educação, a não ser um universo de tecnologia que nos leva a um novo mundo das comunicações.
As pessoas são reais, são as mesmas, algumas muito boas, outras nem tanto. E dessas não presumimos suas intenções. Mas estamos no contexto. Estamos num mundo que não vai parar e nos resta acompanhar, com muita cautela, um mundo cada vez mais próspero e fantástico com sua infinita tecnologia, isso não há dúvidas.
Tomara que grande parte da geração de meus filhos esteja feliz. Estarão? Também não sei, as gerações que vêm chegando enxergam as coisas sob outra ótica, que naturalmente não é a minha, embora a minha geração também teve seus pecados.
Onde erramos? O que corrigir? Acredito que tudo o que aprendemos, o caráter que trazemos e a vida que vivemos, não se joga fora, é a antessala de um futuro que poderá nos trazer benefícios, algo bem compensador.
Espero que muitos encontrem uma resposta, algo que acreditem e que mereça uma luta, um sacrifício que faça com que suas vidas valham a pena e que possam se orgulhar do legado que deixarão para as gerações futuras.
Não concordo com pessoas que dizem que o que passou está enterrado. Não; o passado é a nossa história, o nosso aprendizado, a nossa memória. Passou, sim, mas não precisamos enterrá-lo!
E por que não podemos falar nele ou dele? Isso não invalida viver o presente. As comparações servem para podermos corrigir nossos erros.
Passado e presente são a nossa História. E não vou enterrá-los.